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JOSÉ MORGADO
16/01/2015 - 16:14
Uma entrevista recente da
professora Teresa Paiva, reconhecida especialista em matérias relacionadas como
o sono, sugeriu-me estas notas dirigidas, sobretudo, para o universo dos mais
novos.
Em primeiro lugar, deve
sublinhar-se, sem nada de novo, evidentemente, que a qualidade do sono, tantas
vezes negligenciada, é um dos mais importantes contributos para o bem-estar
geral de crianças e adolescentes, incluindo a sua vida escolar, uma fonte de
preocupações para pais e educadores sempre presente.
A relação entre os estilos de
vida e as rotinas, higiene e qualidade do sono de crianças e adolescentes é
conhecida e estudada, mas, deve dizer-se, nem sempre parece devidamente
considerada. Também entre nós, vários estudos sobre os hábitos e padrões de sono
em crianças e adolescentes têm sido desenvolvidos, designadamente pela
professora Teresa Paiva com resultados que deveriam ser considerados.
Neste universo, em 2013 um estudo
da University College of London mostrava o impacto negativo que a ausência de rotinas
como deitar com regularidade à mesma hora podem ter no bem-estar e saúde das
crianças afectando, por exemplo, o processamento da aprendizagem. Na mesma
linha, outras investigações referem que mais de metade dos adolescentes
inquiridos apresenta quadros de sonolência excessiva e evidencia hábitos de
sono pouco saudáveis.
Um estudo recente realizado nos
EUA que acompanhou durante seis anos 11.000 crianças encontrou fortes indícios
de relação entre perturbações do sono e o desenvolvimento de problemas de
natureza diferenciada no comportamento e funcionamento das crianças.
Esta constatação vai no mesmo
sentido de outros trabalhos com crianças mais novas. A falta de qualidade do
sono e do tempo necessário acaba, naturalmente, por comprometer a qualidade de
vida das crianças e adolescentes. Todos nos cruzamos frequentemente nos centros
comerciais, por exemplo, com crianças, mais pequenas ou maiores, a horas a que
deveriam estar na cama e que, penosa mas excitadamente, deambulam atreladas aos
pais.
Várias investigações sugerem que
parte das alterações verificadas nos padrões e hábitos relativos ao sono
remetem para questões ligadas a stress familiar e sublinham o aumento das
queixas relativas a sonolência e alterações comportamentais durante o dia.
É certo que as situações de
stress familiar serão importantes mas parece-me necessário não esquecer alguns
aspectos relacionados com os estilos de vida, quer com as rotinas, quer com a
utilização mais ou menos regulada das novas tecnologias. Durante o dia, as crianças
e adolescentes passam boa parte do seu tempo saltitando de actividade para
actividade, passam tempos infindos na escola e, muitos deles, além de
pressionados para resultados de excelência transportam ainda, frequentemente,
tarefas escolares para casa.
Neste contexto, é também
relevante considerar o número, alguns estudos sugerem cerca de 50%, de crianças
e adolescentes até aos 15 anos que terão computador ou televisor no quarto,
além do telemóvel.
Acontece que durante o período
que seria dedicado ao sono, sem regulação familiar, muitas crianças e
adolescentes estarão diante de um ecrã, computador, televisão ou telemóvel.
Como é óbvio, este comportamento não pode deixar de implicar consequências
durante o dia – sonolência e distracção, ansiedade, agitação e, naturalmente, o
risco de falta de rendimento escolar num quadro geral de pior qualidade de vida
frequentemente constatado e relatado por educadores e professores.
Creio que, com alguma frequência,
os comportamentos dos miúdos, sobretudo nos mais novos, que são de uma forma
aligeirada remetidos para o saco sem fundo da hiperactividade e problemas de
atenção, estarão associados aos seus hábitos e padrões de sono como, aliás, os
estudos parecem sugerir.
Estas matérias, a presença das
novas tecnologias na vida dos mais pequenos, são problemas novos para muitos
pais, eles próprios com níveis baixos de literacia informática. Considerando as
implicações sérias na vida diária importa que se reflicta sobre a atenção e
ajuda destinada aos pais para que a utilização imprescindível e útil seja
regulada e protectora da qualidade de vida das crianças e adolescentes.
Aliás, a experiência mostra-me
que muitos pais desejam e mostram necessidade de alguma ajuda ou orientação
nestas matérias bem como, naturalmente, solicitam apoio e orientação na
promoção e instalação de estilos de vida, qualidade e hábitos do sono, por
exemplo, mais saudáveis para e com os seus filhos.