Por Marta F. Reis
publicado em 16 Jan 2015 - 10:00
A mais conceituada especialista
em sono no país lançou uma revista digital para acordar a sensibilidade dos
portugueses para o tema. Em entrevista, antecipa alguns diagnósticos e soluções
Aos 69 anos, Teresa Paiva é a
maior especialista portuguesa em sono. A neurologista lançou esta semana uma
revista digital onde esperar recuperar o interesse dos portugueses pelo tema.
Diz que a crise provocou mais noites em claro mas defende que pode ser uma
oportunidade para pensar o que andamos a fazer às nossas vidas, já que
diagnostica um problema de fundo: esquecemo-nos de que temos limites.
Como surgiu o seu interesse por esta área?
Era neurologista em Santa Maria e
no início dos anos 80 havia uns equipamentos novos para monitorizar os comas.
Como pesavam e das primeiras vezes que os levei para os cuidados intensivos fiz
uma ciática, deixei de os usar. Calhou acompanhar dois doentes no hospital, um
que fez uma paragem respiratória e outro que tinha uma grande sonolência.
Voltei a pegar nas máquinas e descobri que tinham apneia do sono. A partir daí
especializei-me.
Puro acaso então?
Sim e ainda bem. As coisas são
mais bonitas quando surgem. O sono tornou-se a minha paixão. Passamos um terço
da vida a dormir e durante esse tempo exercem-se funções essenciais à nossa sobrevivência.
O sono resulta de anos e anos de aperfeiçoamento biológico, não é trivial.
E está cada vez mais ameaçado?
Sem dúvida. Tenho cada vez mais
doentes. Cada vez mais as pessoas pelas dificuldades da vida e pelos traumas
que experienciam não dormem bem.
Não existe também um problema cultural? É normal haver comentadores em
estúdio nas televisões noite dentro?
Também me faz muita confusão.
Ainda estou à espera que um dia se comparem os nossos horários televisivos com
outros países europeus. Na Alemanha ou em Inglaterra, a partir de certa hora
passam repetições, não há programas em directo. Parece-me que será uma
característica muito nossa. E lesiva, porque depois acordamos à mesma hora que
os nossos congéneres dos países nórdicos. 70% dos portugueses deitam-se depois
da meia-noite. Estou interessada em encontrar uma explicação.
Tem alguma suspeita?
Pode haver uma explicação
biológica mas penso que perdemos um bocadinho a noção de que temos limites. Os
portugueses acham que têm os poderes de Deus Nosso Senhor, que podemos fazer
tudo o que nos dá na real gana.
Para ler mais: http://www.ionline.pt/artigos/portugal/teresa-paiva-ha-pessoas-30-anos-dormir-na-cama-dos-pais
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